Um time de astrônomos do projeto de constelações BRITE (BRight Target Explorer) e do Observatório Ritter descobriram um aumento cíclico de 1% na emissão de radiação por uma estrela muito massiva do sistema Iota Orionis que poderá mudar o nosso entendimento sobre essa classe de estrelas.
O sistema binário Iota Orionis é facilmente visível a olho nu, sendo a estrela mais brilhante na espada de Órion, o Caçador. A sua variabilidade única, relatada na MNRAS (Monthly Notices of the Royal Astronomical Society), foi descoberta usando os satélites astronômicos menores, os chamados “nanosats” (nanosatélites).
Gregg Wade, pesquisador líder do projeto canadense, membro do Colégio Militar Real do Canadá em Ontário, declarou:
Como a primeira missão funcional de astronomia ‘nanosatélica’, o projeto BRITE está na vanguarda desta revolução espacial.
A luz de Iota Orionis é relativamente estável por 90% do tempo, mas então mergulha rapidamente sendo seguida de um grande pico.
Herbert Pablo, pesquisador de pós-doutorado na Universidade de Montreal e membro do Centro de Pesquisa em Astrofísica do Quebec, investigador principal do projeto, afirmou:
As variações são surpreendentemente semelhantes a um eletrocardiograma que mostra os ritmos do coração; sistemas do gênero são até conhecidos como sistemas de batimentos cardíacos.
Esta variação incomum é o resultado da interação de duas estrelas que giram em torno do seu centro de massa em uma órbita altamente elíptica com um período de 30 dias.
Embora as duas estrelas passem a maior parte do seu tempo relativamente afastadas uma da outra, a cada órbita e durante um curto período de tempo, diminuem de separação quase por um fator de 8. Nesse ponto, a força gravitacional entre as duas estrelas torna-se tão forte que rapidamente distorce as suas formas, como o puxar da extremidade de um balão, provocando as mudanças incomuns na luz.
Iota Orionis representa a primeira vez que este efeito foi observado num sistema tão massivo (35 vezes a massa do Sol), uma ordem de magnitude maior do que qualquer sistema previamente conhecido, o que permitiu a determinação direta das massas e dos raios dos componentes estelares.
Uma estrela em agitação é como um livro aberto
É até mais interessante: estes sistemas nos permitem perscrutar o interior das próprias estrelas. Herbert Pablo explicou:
A intensa força gravitacional entre as estrelas, à medida que se aproximam entre si, provoca violentos sismos estelares, permitindo-nos analisar o funcionamento interno da estrela, assim como fazemos com o interior da Terra durante os terremotos.
Em geral, fenômenos sismológicos são muito raros em estrelas massivas e esta é a primeira vez que foram observados sismos induzidos em uma estrela assim tão massiva, muito menos em uma cuja massa e raio são bem conhecidos.
Estes sismos sem precedentes também levaram às primeiras pistas reais sobre como essas estrelas irão se desenvolver.
Os astrônomos esperam que esta descoberta fomente novas iniciativas de busca por sistemas idênticos, criando uma mudança fundamental na forma como estudamos a evolução das estrelas gigantes. Isto é importante, considerando que as estrelas massivas são laboratórios dos elementos essenciais à vida humana.