segunda-feira, 22 de maio de 2017

Eta Carinae, o anúncio de uma supernova titânica



No seu novo trabalho fotográfico, o grupo iTelescope-Portugal apontou o telescópio T32 do Observatório de Siding Spring, na Austrália, para a Nebulosa de Carina (NGC 3372), um local de sentimentos contraditórios, localizado relativamente perto de nós a ~7.500 anos-luz, mas infelizmente visível em boas condições somente a partir do Hemisfério Sul.

O seu enorme tamanho e beleza hipnotizante popularizaram esta nebulosa tornando-a num objeto fascinante; todavia, antes de nos deixarmos envolver pela emoção, convém ter presente que estamos perante um local violentíssimo, constituído por gás, poeira e aglomerados estelares, onde estrelas massivas (tipo O e Wolf-Rayet) nascem, evoluem rapidamente esculpindo a paisagem através da ação dos seus poderosos ventos e radiação UV, e terminam a sua vida em explosões de supernova.

Esta imensa nebulosa, com idade estimada em ~3 milhões de anos (determinada pelos principais aglomerados estelares), contém pelo menos 12 estrelas brilhantes que se estima possuírem 50 a 100 vezes a massa do Sol. A mais notável é Eta (η) Carinae, não só pela estimativa que aponta para um tamanho semelhante ao da órbita terrestre, mas também por se encontrar em fase final de vida, exibindo já dois lobos de gás e acentuadas variações de luminosidade, que indiciam estar na eminência de colapsar na forma de supernova titânica.

Um das explicações para as alterações da sua magnitude, que vão de 4 em 1843, para 5 em 1990 e 8 em 2002, reside na possibilidade de se tratar de um sistema binário de estrelas supergigantes azuis, muito próximas uma da outra, envolto numa densa nuvem de gás e poeira. A luminosidade combinada deste sistema é 5 milhões de vezes a do nosso Sol.

Considerando que Eta Carinae irá colapsar num futuro não muito distante, esta será a supernova mais espetacular que alguma vez o ser humano observou, o que nos remete para a derradeira questão: estando aqui tão perto, poderá afetar a Terra? Talvez sim, mas para já sem motivos de preocupações. Talvez a atmosfera superior seja destruída, bem como a camada de ozono e alguns satélites em órbitas mais elevadas.



A imagem mostra uma região central da nebulosa onde podemos encontrar os seguintes objetos:

  • A estrela Eta Carinae, com idade inferior a 3 milhões de anos.
  • A Nebulosa do Buraco da Fechadura, uma nuvem molecular escura, contendo poeira e filamentos brilhantes provocados por gás quente;
  • HD 93205 e 93204, um sistema binário constituído por duas grandes estrelas da sequência principal, com cerca de 50 e 20 massas solares.
  • WR 25, um sistema binário composto por uma estrela Wolf-Rayet (WR) e uma companheira do tipo O;
  • HD 93250, uma estrela binária, não se sabendo ao certo se as componentes pertencem à sequência principal ou se já evoluíram para gigantes;
  • Trumpler 14, um aglomerado aberto com mais de 2.000 estrelas, diâmetro de 6 anos-luz e idade de 1 a 6 milhões de anos;
  • Trumpler 15, um aglomerado aberto e idade de 1 a 6 milhões de anos;
  • Trumpler 16, um enorme aglomerado aberto onde podem ser encontradas algumas das estrelas mais brilhantes conhecidas, tais como Eta Carinae e WR 25, estendendo-se até às proximidades de Trumpler 14 e com idade determinada superior a 3 milhões de anos;
  • WR 22, é um sistema binário composto por uma Wolf-Rayet; e
  • Montanha Mística, um pilar formado por caminhos de gás e poeira que se erguem por mais de 3 anos-luz. Na parte interior, estrelas jovens e quentes formam colunas pequenas de gás com os seus ventos fortes e radiação abrasadora, moldando e comprimindo o pilar, tornando possível o nascimento de novas estrelas no seu interior.




Aquisição de dados efetuada pelo grupo iTelescope – Portugal (Ha: 9×600” Bin 2×2, Lum: 10×600” Bin 1×1, RGB 6×300 cada Bin 2×2), utilizando equipamento remoto (telescópio: Takahashi FSQ 106ED, camara: FLI Microline 16803, montagem: Paramount ME); processamentos: Ruben Barbosa.

O grupo iTelescope – Portugal é constituído por mais de uma dezena de astrônomos amadores e tem como objetivo aprofundar as competências adquiridas, a partilha de conhecimentos, promover a cultura científica através da astronomia e contribuir para uma melhor compreensão dos fenômenos astronômicos.

Fonte: AstroPT

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