sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Uma história de três cidades estelares




A partir de novas observações obtidas com o Telescópio de Rastreio do VLT do ESO, os astrónomos descobriram três populações distintas de estrelas bebés no Enxame da Nebulosa de Orion.

Esta descoberta inesperada ajuda a compreender melhor como é que se formam este tipo de enxames, sugerindo que a formação estelar pode acontecer em surtos, onde cada um ocorre numa escala de tempo muito mais rápida do que se pensava anteriormente.
A OmegaCAM — a câmara de grande angular óptica montada no Telescópio de Rastreio do VLT do ESO (VST) — capturou de forma detalhada a Nebulosa de Orion e o seu enxame associado de estrelas jovens, dando origem a esta imagem. Este objeto é uma das maternidades estelares mais próximas de nós, onde nascem tanto estrelas de grande como de pequena massa, situada a cerca de 1350 anos-luz de distância.

Esta imagem é mais do que apenas uma fotografia bonita. Uma equipa de astrónomos, liderada pelo astrónomo do ESO Giacomo Beccari, usou estes dados de qualidade sem precedentes para medir de forma precisa o brilho e as cores de todas as estrelas do Enxame da Nebulosa de Orion. Estas medições permitiram aos astrónomos determinar a massa e idade das estrelas. Surpreendentemente, os dados revelaram três sequências de potenciais idades diferentes.

“Ao analisar pela primeira vez os dados, ficámos bastante surpreendidos,” disse Beccari, o autor principal do artigo científico que apresenta estes resultados. “A excelente qualidade das imagens OmegaCAM revelou sem sombra de dúvidas que estamos a observar três populações estelares distintas nas regiões centrais de Orion.”

Monika Petr-Gotzens, co-autora do artigo, também a trabalhar no ESO em Garching, explicou, “Este resultado é extremamente significativo. O que estamos a ver é que, neste enxame, as estrelas na fase inicial das suas vidas não se formaram todas em simultâneo, o que quer dizer que o nosso conhecimento relativo à formação de estrelas em enxames pode ter que ser modificado.”

Os astrónomos investigaram cuidadosamente a possibilidade dos diferentes brilhos e cores de algumas das estrelas terem origem em estrelas companheiras escondidas, em vez de indicarem idades diferentes, o que faria com que as estrelas parecessem mais brilhantes e vermelhas do que o são na realidade. No entanto, esta explicação implicaria a existência de propriedades bastante invulgares dos pares, as quais nunca foram observadas anteriormente. Outras medições das estrelas, tais como velocidades de rotação e espectros, apontam também para que as suas idades sejam diferentes.

Este grupo descobriu também que cada uma das três gerações diferentes de estrelas roda a velocidades diferentes — as estrelas mais jovens rodam mais depressa enquanto que as estrelas mais velhas rodam mais devagar. Neste cenário, as estrelas ter-se-iam formado em rápida sucessão, num intervalo de tempo de cerca de 3 milhões de anos.

“Embora não possamos ainda refutar formalmente a possibilidade destas estrelas serem binárias, parece muito mais natural aceitar que estamos a observar três gerações de estrelas que se formaram em sucessão durante um intervalo de tempo de cerca de 3 milhões de anos,” concluiu Beccari.

Os novos resultados sugerem fortemente que a formação estelar no Enxame da Nebulosa de Orion ocorre em surtos e mais rapidamente do que o que se pensava anteriormente.

Matéria: ASTROPT

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