terça-feira, 24 de outubro de 2017

O Sistema Solar - Vênus



Vénus (Português Europeu) ou Vênus (Português Brasileiro) é o segundo planeta do Sistema Solar em ordem de distância a partir do Sol, orbitando a cada 224 dias. Como Vênus se encontra mais próximo do Sol do que a Terra, ele pode ser visto aproximadamente na mesma direção do Sol (sua maior altura é de 47°). Vênus atinge seu brilho máximo algumas horas antes da alvorada ou depois do ocaso, sendo por isso conhecido como a estrela da manhã (Estrela Dalva) ou estrela da tarde (Vésper), também é chamado Estrela do Pastor.




Acredite-se que no passado Vénus possuía oceanos como os da Terra, que se evaporaram quando a temperatura se elevou, restando uma paisagem desértica, seca e poeirenta, com muitas pedras em forma de placas. A pressão atmosférica na superfície do planeta é 92 vezes a da Terra. A superfície venusiana foi objeto de especulação até que alguns dos seus segredos foram revelados pela ciência planetária no século XX.

Ele foi finalmente mapeado em detalhes pelo Programa Magellan de 1990 a 1994. O solo apresenta evidências de extenso vulcanismo e o enxofre na atmosfera pode indicar que houve algumas erupções recentes. Não há evidência de placas tectônicas, possivelmente porque a crosta é muito forte para ser reduzida, sem água para torná-la menos viscosa. Em vez disso, Vênus pode perder seu calor interno em eventos periódicos de reposição da superfície.

O diâmetro de Vénus é apenas 650 km menor e sua massa é 81,5 % da massa da Terra. Entretanto, as condições na superfície venusiana diferem radicalmente daquelas na Terra, devido à sua densa atmosfera de dióxido de carbono. A massa da atmosfera de Vénus é composta em 96,5 % de dióxido de carbono, sendo o nitrogênio a maior parte do restante.


Estrutura Interna

A similaridade em tamanho e densidade entre Vênus e a Terra sugere que eles possuem uma estrutura interna similar: núcleo, manto e crosta. O núcleo de Vênus é como o da Terra, pelo menos parcialmente líquido, porque os dois planetas têm se resfriado mais ou menos na mesma taxa. O tamanho ligeiramente menor de Vênus sugere que as pressões são significativamente menores no seu interior do que na Terra. A principal diferença entre os dois planetas é a inexistência de placas tectônicas em Vénus, provavelmente devido à superfície e manto secos.


Geografia

Cerca de 80% da superfície de Vênus é coberta por suaves planícies vulcânicas, sendo que 70% são planícies com cadeias enrugadas e 10% são planícies suaves ou lobuladas. A meseta ao norte é chamada de Ishtar Terra, em homenagem a Ishtar, a deusa babilônica do amor, e tem aproximadamente a superfície da Austrália. Seu pico fica 11 km acima da elevação média da superfície venusiana. Uma rede de fraturas e falhas cobre a maior parte desta área. Além das crateras de impacto, montanhas e vales comumente encontrados nos planetas rochosos, Vênus reúne um conjunto de acidentes geográficos únicos. Entre esses, há vulcões com topo plano, chamados farras, que se parecem com panquecas e têm diâmetro variando entre 20 e 50 km e altura de 100 a 1 000 m ; sistemas de fraturas radiais estrelados, chamados Novae, acidentes geográficos com fraturas radiais e concêntricas parecendo teias de aranha, conhecidos como aracnoides, e Coronae, anéis circulares de fraturas às vezes cercados por depressões.

Exceções são o Maxwell Montes, em homenagem a James Clerk Maxwell, e as regiões altas Alpha Regio, Beta Regio e Ovda Regio. Esses acidentes foram nomeados antes da adoção do sistema atual pela União Astronômica Internacional, a organização que administra a nomenclatura planetária. As longitudes das características físicas em Vénus são expressas em relação à linha do meridiano principal. Depois das missões Venera, a linha do meridiano foi redefinida para passar pelo pico central da cratera Ariadne.


Geologia da Superfície

A maior parte da superfície venusiana parece ter sido formada por atividade vulcânica. Vênus tem um número de vulcões várias vezes superior ao da Terra e possui 167 enormes vulcões que têm mais de 100 km de diâmetro. O único complexo vulcânico deste tamanho na Terra é a Grande Ilha do Havaí, nos Estados Unidos. Entretanto, isto não acontece por Vénus ser vulcanicamente mais ativo que a Terra, e sim porque sua crosta é mais velha. A crosta oceânica da Terra é continuamente reciclada por subdução nas bordas das placas tectônicas e tem uma idade média de cerca de 100 milhões de anos, enquanto a idade da superfície venusiana é estimada entre 300 e 600 milhões de anos. Além disso, durante o programa espacial soviético Venera, as sondas Venera 11 e Venera 12 detectaram um fluxo constante de raios, e a sonda Venera 12 registrou um ruído poderoso de trovão assim que pousou na superfície. A sonda Venus Express da Agência Espacial Europeia registrou raios abundantes na alta atmosfera. 

Enquanto a chuva causa tempestades na Terra, não há chuva na superfície de Vênus (embora haja efetivamente chuva de ácido sulfúrico na atmosfera superior, que evapora cerca de 25 km acima da superfície). Estas são algumas das melhores evidências de que em Vênus há atividade vulcânica. Em outros corpos celestes com crateras, como a Terra e a Lua, as crateras apresentam uma variedade de estados de degradação. Na Lua, a degradação é causada por impactos subsequentes, enquanto na Terra ela é causada pela erosão do vento e chuva.

A crosta da Terra está em movimento contínuo, mas acredita-se que Vênus não possa sustentar um processo assim. Sem placas tectônicas para dissipar o calor do manto, Vênus passa por um processo cíclico no qual as temperaturas do manto se elevam até atingir um nível crítico que enfraquece a crosta. Os diâmetros das crateras venusianas variam entre 3 km e 280 km. Devido aos efeitos da densa atmosfera nos objetos que caem, não há crateras menores que 3 km. Objetos com energia cinética inferior a um determinado valor são tão desacelerados pela atmosfera que não criam uma cratera de impacto.


Atmosfera e Clima

A massa atmosférica é 93 vezes a da atmosfera da Terra, enquanto a pressão na superfície do planeta é 92 vezes aquela na superfície da Terra – uma pressão equivalente àquela a uma profundidade de quase 1 km no oceano da Terra. A densidade na superfície é de 65 kg/m³ (6,5 % da densidade da água). A atmosfera rica em CO2, juntamente com as espessas nuvens de dióxido de enxofre, gera o mais forte efeito estufa do Sistema Solar, criando temperaturas na superfície acima de 460 °C.

 Isto torna a superfície venusiana mais quente do que a de Mercúrio, que tem temperatura superficial mínima de -220 °C e a máxima de 420°C, apesar de Vênus estar a uma distância do Sol quase duas vezes maior que a de Mercúrio e receber apenas 25% da irradiação solar que Mercúrio recebe. Estudos sugeriram que há alguns bilhões de anos a atmosfera venusiana era muito mais parecida com a da Terra do que é agora, e que havia provavelmente substanciais quantidades de água líquida na superfície, mas um efeito estufa foi causado pela evaporação da água original, o que gerou um nível crítico de gases de efeito estufa na atmosfera. 

A inércia térmica e a transferência de calor por ventos na atmosfera inferior fazem com que a temperatura na superfície venusiana não varie significativamente entre dia e noite, apesar da rotação extremamente lenta do planeta. Os ventos na superfície são lentos, movendo-se a poucos quilômetros por hora, mas, por causa da alta densidade da atmosfera na superfície do planeta, exercem uma força significativa contra obstáculos e transportam poeira e pequenas pedras pela superfície.

Essas nuvens refletem de volta para o espaço cerca de 60% da luz do Sol que incide sobre elas e impedem a observação direta da superfície venusiana na luz visível. A capa permanente de nuvens implica que embora Vênus esteja mais próximo do Sol do que a Terra, sua superfície não é tão bem iluminada. Os ventos venusianos se movem a até 60 vezes a velocidade de rotação do planeta, enquanto na Terra os ventos mais fortes chegam a apenas 10% a 20% da velocidade de rotação. 

A superfície de Vênus é efetivamente isotérmica, ela mantém uma temperatura constante não somente entre dia e noite, mas também entre o equador e os polos. A pequena inclinação axial do planeta (menos de três graus, comparados com os 23 graus da Terra) também minimiza variações sazonais de temperatura. A identidade desta substância não foi determinada com certeza, mas as especulações variam entre telúrio elementar e sulfeto de chumbo (galena). 

As nuvens de Vénus são capazes de produzir raios de forma muito similar às nuvens da Terra. Entretanto, em 2006 - 07 a Venus Express claramente identificou ondas eletromagnéticas típicas de raios. Em 2007, a sonda Venus Express descobriu que existe um enorme vórtex atmosférico duplo no polo sul do planeta.


Campo magnético e núcleo


Em 1967, a sonda soviética Venera 4 descobriu que o campo magnético de Vênus é muito mais fraco do que o da Terra. Este campo magnético é induzido por uma interação entre a ionosfera e o vento solar, e não por um dínamo no núcleo, como aquele no interior da Terra. A pequena magnetosfera induzida de Vênus provê uma proteção desprezível contra a radiação cósmica, e esta pode provocar descargas de raios de nuvem para nuvem. 

A falta de um campo magnético intrínseco em Vênus foi surpreendente porque o planeta é similar à Terra em tamanho, e era esperado que também contivesse um dínamo em seu núcleo. Um dínamo requer três condições: um líquido condutor, rotação e convecção. Estima-se que o núcleo seja eletricamente condutor e, apesar de se imaginar que a rotação seja lenta, simulações mostram que ela é suficiente para produzir um dínamo.

Isto leva ao entendimento de que a inexistência do dínamo se deve à falta de convecção no núcleo de Vénus. Na Terra, a convecção ocorre na camada externa de líquido do núcleo porque o fundo da camada de líquido é muito mais quente do que o topo. Como resultado, não há um dínamo que possa gerar um campo magnético e a energia calorífica do núcleo é usada para reaquecer a crosta.


Órbita e rotação

Vênus orbita o Sol a uma distância média de cerca de 108 milhões de quilômetros (cerca de 0,7 UA) e completa uma órbita a cada 224,65 dias. Embora todas as órbitas planetárias sejam elípticas, a de Vénus é a mais próxima da circular, com uma excentricidade de menos de 1%. 

Quando Vênus se coloca entre a Terra e o Sol, numa posição conhecida como "conjunção inferior", ele faz a maior aproximação da Terra de todos os planetas, ficando a uma distância média de 41 milhões de quilômetros.

Durante períodos de grande excentricidade, Vênus pode se aproximar a até 38,2 milhões de quilômetros. Observados de um ponto sobre o polo norte do Sol, todos os planetas orbitam no sentido anti-horário, mas, enquanto a maioria dos planetas também gira sobre seu eixo no sentido anti-horário, Vênus gira em sentido horário, em uma rotação "retrógrada". 

O atual período de rotação de Vênus representa um estado de equilíbrio entre a maré gravitacional do Sol, que tende a reduzir a velocidade de rotação, e uma maré atmosférica criada pelo aquecimento solar da espessa atmosfera venusiana. Quando se formou a partir da nebulosa solar, Vênus pode ter tido período de rotação e obliquidade diferentes, e depois migrou para o estado atual por causa de mudanças caóticas provocadas por perturbações planetárias e efeitos de maré sobre sua densa atmosfera. 

No equador, a superfície venusiana gira a 6,5 km/h, enquanto, na Terra, a velocidade de rotação é de cerca de 1.670 km/h. Um dia sideral venusiano é, portanto, mais longo do que um ano venusiano (243 contra 224,7 dias terrestres). Entretanto, por causa da rotação retrógrada, a duração do dia solar em Vênus é significativamente mais curta que o dia sideral. Para um observador na superfície de Vênus, o tempo entre um nascer do Sol e outro seria de 116,75 dias terrestres. 

Como resultado do dia solar relativamente longo, um ano em Vênus dura aproximadamente 1,92 dia venusiano. Um aspecto curioso da órbita e período de rotação de Vênus é que o intervalo médio de 584 dias entre aproximações sucessivas da Terra é quase exatamente igual a cinco dias solares venusianos. Depois de 584 dias, Vênus aparece numa posição a 72° da inclinação anterior. Depois de cinco períodos de 72° em uma circunferência, Vênus regressa ao mesmo ponto do céu a cada 8 anos (menos dois dias correspondentes aos anos bissextos). 

De acordo com estudo de 2006 de Alex Alemi e David Stevenson, do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena, sobre modelos do início do Sistema Solar, é muito provável que, bilhões de anos atrás, Vênus tivesse pelo menos um satélite natural, criada por um grande evento de impacto.  Cerca de 10 milhões de anos depois, de acordo com o estudo, outro impacto inverteu o sentido de rotação do planeta, o que fez o satélite venusiano se aproximar a Vênus até colidir e se juntar com o planeta.


Observação

Vênus é mais brilhante que qualquer astro visto no céu (descontando o Sol e a Lua), e sua magnitude aparente máxima é de - 4,6. O planeta pode ser visto facilmente quando o Sol está baixo no horizonte. Vênus "ultrapassa" a Terra a cada 584 dias enquanto orbita o Sol. Nessas ocasiões, ele muda de "Estrela Vespertina", visível após o pôr do sol, para "Estrela Matutina", visível antes do nascer do Sol.

 Enquanto Mercúrio, o outro planeta inferior, atinge uma elongação máxima de apenas 28°, e é frequentemente difícil de discernir no crepúsculo, Vênus é difícil de perder quando está mais brilhante. Sendo o objeto pontual mais brilhante do céu, Vênus é frequentemente citado pela mídia como "objeto voador não identificado".

A medida que se move em sua órbita, Vénus apresenta, na visão telescópica, fases como as da Lua. Vênus está mais brilhante no céu noturno e apresenta uma muito maior fase "crescente" na visão telescópica quando se aproxima da região entre a Terra e o Sol. Vênus está maior e apresenta sua fase "nova" quando está entre o Sol e a Terra. A órbita venusiana é ligeiramente inclinada em relação à órbita da Terra, assim, quando o planeta passa entre a Terra e o Sol, ele normalmente não cruza a face do Sol. Entretanto, trânsitos de Vênus ocorrem quando a conjunção inferior do planeta coincide com a sua presença no plano da órbita da Terra.

Historicamente, os trânsitos de Vênus foram importantes porque permitiram aos astrônomos determinar diretamente o tamanho da Unidade Astronômica e, portanto, o tamanho do Sistema Solar. Um persistente mistério das observações de Vênus é a chamada luz de Ashen – uma aparentemente fraca iluminação do lado escuro do planeta, vista quando ele está na fase crescente. Observadores especulam que ela pode ser causada por atividade elétrica na atmosfera venusiana, mas isto pode ser ilusório, efeito fisiológico de se observar um objeto muito brilhante em forma de crescente.


Pesquisas iniciais

Vênus era conhecido nas civilizações antigas como a "estrela matutina" ou a "estrela vespertina". Diversas culturas historicamente tomaram as aparições como estrela da manhã ou da tarde como de dois corpos celestes diferentes. Acredita-se ao filósofo grego Pitágoras o reconhecimento de que as estrelas eram um único corpo, no século VI a.C., embora ele pensasse que Vênus orbitava a Terra.

O trânsito de Vênus foi observado pela primeira vez pelo astrônomo persa Avicena, que concluiu que Vênus estava mais perto da Terra do que o Sol e estabeleceu que Vênus estava, pelo menos algumas vezes, abaixo do Sol. No século XII, o astrônomo andaluz Ibn Bajjah observou "dois planetas como manchas pretas na face do Sol", o que foi mais tarde identificado como o trânsito de Vênus e Mercúrio pelo astrônomo Qotb al - Din Shirazi, do observatório Maragha, no século XIII.

Quando o físico e astrônomo italiano Galileu Galilei observou o planeta pela primeira vez no início do século XVII, descobriu que ele apresentava fases como a Lua, variando de crescente a gibosa, para cheia e vice - versa. Quando Vênus está mais distante do Sol no céu, ele mostra uma fase meio - iluminada e quando está mais perto do Sol no céu mostra uma fase crescente ou cheia. Isto só seria possível se Vênus orbitasse o Sol, e esta foi uma das primeiras observações a claramente contradizer o modelo geocêntrico do astrônomo grego Cláudio Ptolomeu de que o Sistema Solar era concêntrico e centrado na Terra. 

A atmosfera de Vênus foi descoberta em 1761 pelo pesquisador russo Mikhail Lomonossov. Ela foi observada em 1790 pelo astrônomo alemão Johann Schröter, que descobriu que, quando o planeta estava em um crescente fino, as pontas se estendiam por mais que 180°. Ele corretamente supôs que isto se devia à dispersão da luz do Sol numa atmosfera densa. Mais tarde, o astrônomo norte americano Chester Smith Lyman observou um anel completo em torno do lado escuro do planeta quando ele estava na conjunção inferior, fornecendo uma evidência adicional para uma atmosfera.


Observações terrestres

Pouco mais foi descoberto sobre Vênus até o século XX. Seu disco quase sem acidentes não dava indícios de como sua superfície deveria ser, e somente com o desenvolvimento das observações por espectroscopia, radar e radiação ultravioleta é que um pouco mais dos seus segredos foram revelados. As primeiras observações por raios ultravioleta ocorreram nos anos 1920, quando Frank E. Ross descobriu que fotografias com ultravioleta revelavam consideráveis detalhes que estavam ausentes nas radiações visível e infravermelha.

Observações por espectroscopia nos anos 1900 deram as primeiras pistas sobre a rotação venusiana. Ele supôs que o planeta tinha um período de rotação muito mais longo do que se pensava anteriormente. Mais tarde, trabalhos na década de 1950 mostraram que a rotação era retrógrada. Observações de Vênus por radar ocorreram inicialmente na década de 1960 e forneceram as primeiras medidas do período de rotação que se aproximavam do valor atualmente conhecido. Esses três acidentes são atualmente os únicos em Vênus que não têm nomes femininos.


Esforços inciais de exploração

A primeira nave bem sucedida do Programa Venera soviético, a Venera 1, foi lançada numa trajetória de impacto direto, mas o contato foi perdido após uma semana de missão, quando a sonda estava a cerca de dois milhões de quilômetros da Terra. Estima - se que ela tenha passado a 100 mil quilômetros de Vênus em meados de maio. 

A exploração de Vênus pelos Estados Unidos também começou mal, com a perda da sonda Mariner 1 no lançamento, como parte do Programa Mariner. A missão subsequente Mariner 2 obteve maior sucesso e, depois de uma órbita de transferência de 109 dias, em 14 de dezembro de 1962 ela se tornou a primeira missão interplanetária com sucesso, passando a 34.833 km da superfície de Vênus. A Mariner 2 também melhorou as estimativas da massa e da Unidade Astronômica.


Entrada na atmosfera

A sonda soviética Venera 3 provavelmente chocou - se com o solo de Vênus em 1 de março de 1966.  O encontro seguinte de Vênus com uma sonda não tripulada ocorreu em 18 de outubro de 1967, quando a Venera 4 entrou na atmosfera com sucesso e desenvolveu uma série de experimentos científicos. A Venera 4 mostrou que a temperatura na superfície era ainda maior do que a medida pela Mariner 2 – quase 500 °C, e que entre 90 e 95% da atmosfera eram dióxido de carbono.

A atmosfera venusiana era consideravelmente mais densa do que os projetistas da Venera 4 tinham previsto, e a queda do paraquedas mais lenta do que o pretendido implicou que as suas baterias se esgotaram antes de a sonda atingir a superfície. Outra sonda chegou a Vênus um dia depois, em 19 de outubro de 1967, quando a sonda norte - americana Mariner 5 realizou um sobrevoo a uma distância de menos de 4 000 km sobre o topo das nuvens. Um conjunto de instrumentos mais sensíveis do que aqueles da Mariner 2, em particular o seu experimento de rádio - ocultação, retornou dados sobre a composição, pressão e densidade da atmosfera venusiana. 

Os dados do conjunto Venera 4 - Mariner 5 foram analisados por uma equipe combinada soviético - americana, em uma série de colóquios ao longo do ano seguinte, num exemplo inicial de cooperação espacial. Armada com as lições e dados obtidos com a Venera 4, a União Soviética lançou as sondas gêmeas Venera 5 e Venera 6, com cinco dias de diferença em janeiro de 1969, elas chegaram a Vênus com um dia de diferença, em 16 e 17 de maio daquele ano. Como os modelos atmosféricos então considerados de Vênus sugeriam uma pressão na superfície entre 75 e 100 bar, não era esperado que elas sobrevivessem à superfície.


Ciência da superfície e da atmosfera

A Venera 7 representou um esforço para retornar dados da superfície do planeta, e foi construída com um módulo de descida reforçado, capaz de suportar uma pressão de 180 bar. O programa Venera continuou com a Venera 8 enviando dados da superfície por 50 minutos, e a Venera 9 e Venera 10 enviando as primeiras imagens da paisagem venusiana. 

Os dois locais de descida apresentaram terrenos muito diferentes nas vizinhanças das sondas : a Venera 9 tinha descido num declive de 20 graus de inclinação, com pedras de 30 a 40 cm espalhadas em volta, a Venera 10 mostrou lajes rochosas semelhantes a basalto, entremeadas com material desgastado pelas intempéries. Enquanto isso, a NASA tinha enviado a sonda Mariner 10 numa trajetória em gravidade assistida por Vênus, no seu caminho para Mercúrio.

Em 5 de fevereiro de 1974, a Mariner 10 passou a 5.790 km de Vênus, enviando mais de 4.000 fotografias. A Pioneer Venus Orbiter foi inserida numa órbita elíptica em torno de Vênus em 4 de dezembro de 1978 e lá permaneceu por mais de 13 anos, estudando a atmosfera e mapeando a superfície com radar. Dessas quatro sondas, a sonda Day continuou transmitindo dados para a Terra por 67 minutos a partir da superfície, superando todas as expectativas dos seus projetistas. 

Quatro outras missões Venera ocorreram ao longo dos quatro anos seguintes, com a Venera 11 e a Venera 12 detectando as tempestades elétricas venusianas, e a Venera 13 e a Venera 14 descendo com quatro dias de diferença em 1 e 5 de março de 1982 e retornando as primeiras fotografias coloridas da superfície. A sonda Venera 13 bateu um recorde de permanência, ao transmitir por mais de duas horas (127 minutos) dados para a estação em Terra. As Veneras 13 e a 14 analisaram amostras de solo com um espectrômetro por fluorescência de raios X e tentaram medir a compressibilidade do solo com uma sonda de impacto. 

Para efetuar a análise, um braço robótico furava o chão e retirava uma amostra de solo, conduzindo a uma câmera hermética com uma temperatura de 30 °C e uma pressão de 0,01 bar. A Venera 14 teve a má sorte de atingir a capa ejetada da lente da câmera, e com isso a sonda não atingiu o solo. O programa Venera chegou ao fim em outubro de 1983, quando a Venera 15 e a Venera 16 foram colocadas em órbita para conduzir o mapeamento do solo venusiano com um radar rudimentar de abertura sintética. 

Em 1985, a União Soviética aproveitou a oportunidade de combinar missões a Vênus e ao cometa Halley, que passava pelo Sistema Solar interno naquele ano. No caminho para o cometa Halley, em 11 e 15 de junho de 1985 cada uma das duas naves da Missão Vega lançou uma sonda do tipo Venera (das quais a da Vega 1 falhou parcialmente) e liberou na alta atmosfera um aerobot (robô aéreo suportado por balão).


Mapeamento com radar

A sonda norte-americana Magellan foi lançada em 4 de maio de 1989, com a missão de mapear a superfície de Vénus com radar. As imagens de alta definição obtidas durante os 4 anos e meio de operação superaram de longe todos os mapas anteriores e foram comparados a fotografias a luz visível de outros planetas. A Magellan captou imagens de mais de 98% da superfície de Vênus por radar e mapeou 95% do seu campo gravitacional.

Em 1994, no fim da sua missão, a Magellan foi deliberadamente enviada para destruição na atmosfera de Vênus para quantificar a sua densidade. Vênus foi estudada pelas naves norte-americanas Galileo e Cassini, durante sobrevoos em suas missões para os planetas externos, mas a Magellan foi a última missão dedicada a Vênus por mais de uma década.


Missões atuais e futuras

A sonda Venus Express foi projetada e construída pela Agência Espacial Europeia. Lançada em 9 de novembro de 2005 por um foguete russo Soyuz - Fregat, ela assumiu com sucesso uma órbita polar de Vênus em 11 de abril de 2006. Um dos principais resultados da missão Venus Express é a descoberta da existência de um enorme vórtex atmosférico no polo sul do planeta. 

A missão MESSENGER da NASA a Mercúrio realizou dois sobrevoos em Vênus em outubro de 2006 e junho de 2007, para desacelerar a sua trajetória para uma inserção orbital em Mercúrio no ano 2011. A MESSENGER coletou muitos dados científicos nesses dois sobrevoos de passagem. A Agência Espacial Europeia (junto com o Japão) também planeja lançar uma missão a Mercúrio em 2017, denominada BepiColombo, que realizará dois sobrevoos de Vênus antes de alcançar a órbita de Mercúrio em 2024. 

Novas missões a Vênus estão em planejamento. O órgão aeroespacial japonês JAXA concebeu um orbitador a Vênus, o Akatsuki (anteriormente “Planeta - C”), lançado em 20 de maio de 2010. As pesquisas planejadas incluem a realização de imagens da superfície com câmera infravermelha e experimentos voltados para confirmar a presença de raios, bem como para a determinação da existência de vulcanismo superficial atual. Sob o seu Programa Novas Fronteiras, a Agência Espacial Estadunidense propôs uma missão de pouso em Vênus, chamada Venus In - Situ Explorer, para estudar as condições da superfície e investigar as características elementares e mineralógicas do regolito. 

Uma missão com uma sonda voltada para a atmosfera e superfície de Vênus, "Surface and Atmosphere Geochemical Explorer" (SAGE), foi proposta pela NASA como candidata no Programa Novas Fronteiras, mas a missão não foi selecionada para voo. A Venera - D é uma proposta russa de sonda a Vênus, planejada para ser lançada em torno de 2025, com o objetivo de fazer observações remotas em torno do planeta e liberar um módulo de pouso baseado no projeto Venera, capaz de sobreviver por um longo período na superfície do planeta.

Missão tripulada a Vênus

Uma missão tripulada de sobrevoo de Vênus, usando os equipamentos do Projeto Apollo, foi proposta no final da década de 1960. A missão foi planejada para lançamento em outubro ou novembro de 1973 e usaria um foguete Saturno V para enviar três homens até Vênus, numa missão de aproximadamente um ano. A espaçonave passaria a aproximadamente 5.000 km da superfície de Vênus, cerca de quatro meses depois da partida.


Histórico de sua compreensão na cultura

Por ser um dos objetos mais brilhantes do céu, Vênus é conhecido desde os tempos pré - históricos e, como tal, ganhou uma posição importante na cultura humana. Ele foi descrito em textos babilônicos cuneiformes, como a placa de Vênus de Ammisduqa, que relata observações que possivelmente datam de 1600 a.c. 

Os babilônios chamavam o planeta de Ishtar (do sumério Inanna), a personificação da feminilidade e deusa do amor. Os antigos egípcios acreditavam que o planeta Vênus se tratava de dois corpos separados e conheciam a estrela da manhã como Tioumoutiri e a da noite como Ouaiti. A estrela da noite era chamada Ἓσπερος, Hésperos (latinizada como Hesperus). 

O naturalista romano Plínio, o Velho (História Natural, ii, 37) identificava o planeta Vênus com Isis. Em algumas partes da literatura Pahlavi as divindades Aredvi Sura e Anahita são vistas como entidades separadas, a primeira como a personificação do rio mítico e a última como uma deusa da fertilidade que é associada com o planeta Vênus. 

Como a deusa Aredvi Sura Anahita – também chamada simplesmente Anahita – ambas as divindades são unificadas em outras descrições, como na Grande Bundahishn, e são representadas pelo planeta. Entretanto, no texto avéstico Mehr Yasht (Yasht 10) há uma possível ligação antiga a Mitra. O nome persa atual do planeta é Nahid, que deriva de Anahita e, mais tarde, do termo Anahid na linguagem Pahlavi. 

O planeta Vênus foi importante para a civilização maia, que desenvolveu um calendário religioso baseado parcialmente nos seus movimentos, e os considerava para determinar o momento propício para eventos como guerras. Vênus é importante em muitas culturas aborígines australianas, como a do povo Yolngu na Austrália setentrional. Os Yolngu se reúnem depois do pôr do Sol para esperar pelo aparecimento de Vênus, que eles chamam Barnumbirr.

Na astrologia ocidental, derivada da sua conotação histórica com deusas da feminilidade e amor, considera - se que Vênus influencia o desejo e a fertilidade sexual. Na astrologia védica indiana, Vênus é conhecido como Shukra, significando “claro, puro”, ou “brilho, clareza”, em sânscrito. No sistema metafísico da Teosofia, acredita - se que no plano etéreo de Vênus haja uma civilização que existiu centenas de milhões de anos antes da Terra, acredita - se também que a deidade que governa a Terra, Sanat Kumara, provém de Vênus. 

O símbolo astronômico de Vênus é o mesmo utilizado em biologia para o sexo feminino, um círculo com uma pequena cruz em baixo. O símbolo de Vênus também representa a feminilidade, e na Alquimia se referia ao metal cobre. O cobre polido era usado em espelhos desde a antiguidade e o símbolo de Vênus foi algumas vezes entendido como a representar o espelho da deusa. Talvez a mais estranha aparição de Vênus na literatura seja como o arauto da destruição em Mundos em Colisão de Immanuel Velikovsky (1950). Neste livro intensamente controverso, Velikovsky argumenta que muitas histórias aparentemente inacreditáveis no Velho Testamento são verdadeiras recordações de vezes em que Vênus quase colidiu com a Terra – quando ele ainda era um cometa e não tinha se tornado o dócil planeta que conhecemos hoje. Ele sustenta que Vênus causou a maioria dos estranhos eventos do Êxodo.




Na ficção científica

A impenetrável cobertura de nuvens venusiana deu aos escritores de ficção científica livre curso para especular sobre as condições na sua superfície, mais ainda quando as primeiras observações mostraram que não só ele era muito similar à Terra em tamanho, como possuía uma atmosfera substancial. Mais próximo do Sol do que a Terra, o planeta era frequentemente mostrado como mais quente, mas ainda habitável por humanos. O gênero atingiu o seu máximo entre os anos 1930 e 1950, numa época em que a ciência havia revelado alguns aspectos de Vênus, mas não ainda a severa realidade das condições de sua superfície. As descobertas das primeiras missões a Vênus mostraram que a realidade era bastante diferente e levaram ao fim do gênero. À medida que o conhecimento científico de Vênus avançou, os autores de ficção científica se esforçaram para manter o passo, particularmente em conjecturas sobre a tentativa humana de terra formação de Vênus.


Colonização

Devido às suas condições extremamente hostis, uma colonização superficial de Vênus está fora de questão com a tecnologia atual. Entretanto, a pressão atmosférica e a temperatura a aproximadamente 50 km acima da superfície são similares às da superfície da Terra, e o ar da Terra (nitrogênio e oxigênio) seria um gás ascendente na atmosfera venusiana de principalmente dióxido de carbono. Isto levou a propostas de extensas “cidades flutuantes” na atmosfera venusiana. Os aeróstatos (balões mais leves que o ar) poderiam ser usados para a exploração inicial e posteriormente para colônias permanentes. Entre os muitos desafios de engenharia estão os teores perigosos de ácido sulfúrico nessas altitudes.

Fonte: Wikipédia

Nenhum comentário:

Postar um comentário